Cobalto: A necessidade tecnológica confronta a ética.
O Cobalto é um metal de transição, que se encontra entre o Ferro e o Níquel na tabela periódica, tem um ponto de fusão elevado (1493ºC) e consegue manter uma elevada resistência a altas temperaturas. Assim como os metais que ladeia, é ferromagnético e, assim como a resistência, mantém esta propriedade a até aos 1100ºC, mais que qualquer outro material.
Estas propriedades únicas fazem com que o Cobalto seja o metal perfeito para dois ramos da alta-tecnologia: super-ligas e cátodos de baterias.
As super-ligas de alta performance compreendem cerca de 18% da procura de Cobalto, que devido às propriedades já referidas, nomeadamente a tolerância a temperaturas elevadas, faz com seja utilizado em: lâminas de turbinas, motores a jacto, turbinas a gás, próteses e ímanes permanentes.
A procura do cobalto para baterias é muito superior (49%), sendo a maioria aplicado em cátodos de baterias com iões de lítio:
Os três cátodos de lítio com maior poder energético resultam de compostos com cobalto, tornando-o indispensável em diferentes equipamentos dependentes de bateria: smartphones (LCO), Tesla Model S (NCA), Tesla Powerwall (NMC), Chevy Volt (NMC/LMO).
Tipos de cátodos de iões de lítio
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Colbalto no cátodo
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Energia específica (Wh/kg)
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LPF
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0%
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120
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LMO
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0%
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140
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NMC
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15%
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200
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LCO
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55%
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200
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NCA
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10%
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245
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Confrontando-se com a crescente necessidade tecnológica deste material, o cobalto revela-se uma das matérias-primas críticas e essenciais para a União Europeia, numa lista de 20 actualizada em 2014 (Sobre a revisão da lista de matérias-primas essenciais para a UE e a implementação da Iniciativa Matérias-Primas, dados baseados no relatório «Critical raw materials for the EU» de 2014, elaborado pelo Grupo de trabalho ad hoc sobre a definição de matérias-primas essenciais para a UE do RMSG (Raw Materials Supply Group)).
Na imagem podemos ver que a metodologia para identificar as matérias primas críticas se baseia em dois indicadores: importância económica e risco de abastecimento.
O risco de abastecimento tem em consideração factores como a estabilidade política dos países produtores, assim como o índice de violência, a eficácia governamental, a qualidade legislativa e as ligações políticas.
Comissão Europeia |
Nesta lista o Cobalto é apresentado como tendo uma taxa de reciclagem em fim de vida útil de apenas 16% e um índice de substituibilidade de 0,71. O «índice de substituibilidade» mede a dificuldade de substituir o material, contabilizada e ponderada para todas as suas aplicações. Valor que varia entre 0 e 1, representando o 1 o menos substituível.
Quando analisamos os produtores de Cobalto a nível europeu, 96% tem como fonte a Rússia (dados de 2012). A nível mundial, o principal produtor é a República Democrática do Congo (DRC) com ~56% da produção (Fonte: CRU, estimated production for 2017, tonnes).
A cadeia de abastecimento e a produção de Cobalto
É exactamente na cadeia de abastecimento e no maior produtor mundial de Cobalto que os problemas éticos e de precariedade confrontam a necessidade tecnológica do recurso. Actualmente, a produção de Cobalto encontra-se praticamente ao mesmo nível da procura, levantando três problemas que podem ser uma condicionante no futuro:
- O Cobalto não é encontrado no estado nativo: o que faz com que seja raramente explorado como recurso primário. Os principais minerais de cobalto são a cobaltite, eritrite, cobaltocalcite e skuterudite.
- Maioria do cobalto é produzido como subproduto: 60% a produção de Cobalto provém, como subproduto, de minas de Níquel e 38% de minas de Cobre, também como subproduto. Apenas dois porcento das explorações têm o Cobalto como recurso primário.
- A maior parte da produção vem da Républica Democrática do Congo (DRC), um pais com um risco de abastecimento muito elevado: a DRC tem cerca de 55,4% da produção mundial de Cobalto (67 975 ton), seguido da China com 1,2 % e dos EUA com 0,4%. O resto do mundo produz os restantes 43%. Fonte: CRU, estimated production for 2017, tonnes.
Qual a preocupação do consumidor final com a Républica Democrática do Congo (DRC)?
- A DRC é um dos paises mais pobre, corrupto e coercivo do mundo:
151º de 159 países no Human Freedom Index
176º de 188 países no Human Development Index
178º em 184 países em termos de PIB per capita (US $ 455)
148º de 169 países no Corruption Perceptions Index. - A DRC é o país com mais mortalidade desde a 2ª Guerra Mundial: A DRC teve duas guerras recentes.
A Primeira Guerra do Congo (1996-1997) em que o Ruanda invade e derruba o regime de Mobutu, presidente da DRC (Zaire na época), desde 1965.
A Segunda Guerra do Congo (1998-2003), que está marcado como o conflito mais sangrento desde a 2ª Guerra Mundial, com 5,4 milhões de mortos. - Os direitos humanos nas minas da DRC
O governo da DRC estima que 20% de todas as produções de Cobalto do país sejam artesanais, nomeadamente, trabalhadores independentes que abrem buracos sem condições de saúde, segurança ou maquinaria adequada.
Dos mais de 100 mil mineiros independentes que existem na DRC, a UNICEF acredita que 40 mil são crianças a partir dos 7 anos que fazem esforço físico durante 12 horas por $2/dia.
A Amnistia Internacional alega que empresas como a Apple, Samsung e Sony falham no processo de certificação das cadeias de abastecimento a que recorrem, principalmente, no que se trata a precariedade e trabalho/exploração infantil.
Qual é o futuro do abastecimento de Cobalto?
Companhias como a Tesla e a Panasonic precisam, para a tecnologia que produzem actualmente, de fontes confiáveis de produção de Cobalto, que são escassas actualmente.
Os EUA, por exemplo, não exploram Cobalto activamente desde 1971 e a USGS diz que existem apenas cerca de 300 toneladas armazenadas em stock.
A verdade é que o futuro do Cobalto depende amplamente da DRC, na medida em que para além de produzirem cerca de 56% do Cobalto mundialmente disponível, detêm também 47% das reservas do mundo.
Outras fontes de Cobalto
Se o objectivo for diminuir a dependência da DRC para o fornecimento de Cobalto, é necessária a pesquisa de novos depósitos. A Tesla tem como objectivo a criação de uma cadeia de abastecimento Norte Americana, o que faz com que várias empresas mineiras estejam na região com actividades de prospecção:
- Ontário: Ontário é o único local onde existiram minas e com o Cobalto como recurso primário. A prospecção desenvolve-se num sitio denominado "a cidade do Cobalto", que fica a meio caminho de Sudbury, a capital mundial do Níquel, e de Val-d'Or, os mais famosos campos de Ouro do mundo.
- Idaho: Idaho é conhecido como o "Gem state" e pela abundância de prata em Couer S'Alene. No passado foi igualmente produtor de Cobalto.
- British Columbia: As montanhas da British Columbia são conhecidas pelos seus depósitos ricos em Ouro, Prata, Cobre, Zinco e Carvão. O Cobalto ocorre muitas vezes associado ao Cobre e ao Zinco e existe um histórico de produção do recurso.
- Territórios do Noroeste: A cerca de 160 km de Yellowknife encontra-se um depósito de Ouro-Cobalto-Bismuto-Cobre em desenvolvimento.
No final da publicação deixo um infográfico da LiCo Energy Metals, que se foca na temática do Cobalto, as fontes e os problemas de precariedade nas cadeias de fornecimento que existem hoje.
O Cobalto em Portugal...
O potencial mineiro de Portugal continental para a exploração do Cobalto distribui-se principalmente na zona de Galiza Trás-os-Montes e na Faixa Piritosa Ibérica, associado a outros minérios como o Zinco e Cobre.
No entanto, é na plataforma continental de Portugal que está o maior potencial de exploração de Cobalto, nomeadamente nas crostas e nódulos de Fe-Mn.
Fonte: LNEG |
As amostras recolhidas nas montanhas submarinas do Oceano Atlântico Nordeste, mostram que as mineralizações ocorrem entre os 700 e o 4600m e que resultam de uma precipitação hidrogenética, com crescimento lento (1-10 mm/Ma), que potencia a concentração de elementos metálicos com elevado interesse económico: Co, Ni, Cu, Zn e Grupo da Platina.
Fonte: LNEG |
Os resultados das amostras da Zona Económica Exclusiva de Portugal, revelam valores de Co+Ni+Cu+Zn na ordem dos obtidos em depósitos de Fe-Mn do Oceano Pacífico, considerados exploráveis.
Estes valores apontam reservas na ordem de 25% do consumo mundial, que se manifestaria em cerca de 217 milhões de euros por ano.
Infográfico
Fontes:
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